quinta-feira, 30 de junho de 2011

O impacto que o Autismo tem na Família




“Antes de os pais de uma criança com autismo serem pais dessa criança, eram um casal. Antes de se conhecerem, eram indivíduos com as suas identidades particulares.” Siegel (2008:183)


Quando se inicia uma nova família e se concebe um novo lar, também se dá início a um processo de adaptação, a vários níveis, desde as rotinas diárias, à (re)construção de valores e às condutas adaptativas da nova base familiar. Com a perspectiva da chegada de um filho, novas esperanças são assumidas pela família, no que se refere às suas semelhanças físicas, à sua personalidade, às suas formas de interacção social e afectiva, ao seu futuro. Estas expectativas são idealizadas desde o primeiro momento (concepção), espera-se que seja uma criança saudável e que tenha tudo o que a sociedade hoje em dia exige.

De acordo com Gomes (s/d:18) “Quando as idealizações dos progenitores são «derrubadas» porque o filho «chegado» não foi o idealizado, naturalmente há uma ruptura nesta idealização e surgem sentimentos de rejeição, não pela criança, mas pelo facto em si. A partir daqui, há toda uma família que tem de se adaptar a uma nova realidade e mudar a sua dinâmica compulsoriamente.”

Os pais necessitam de reflectir acerca dos sentimentos suscitados por um diagnóstico de autismo e há estádios pelos quais a maior parte das famílias passam. Saber como os outros pais pensam e raciocinam, quando enfrentam o diagnostico do seu filho, pode fazê-lo sentir que não está só e que não é o único que se sente confuso, furioso, triste, ou cujo os sentimentos ou pensamentos não consegue controlar, quando ao seu filho é diagnosticado esta patologia.

Segundo Correia (2003) as reacções dos pais à informação de que o seu filho é uma criança com NEE têm sido comparadas às experiências de perda de alguém amado, por morte ou separação. Assim, também os pais atravessam um período de luto pela perda de um filho “idealizado”.
Os vários modelos do processo de luto hipotetizam uma sequencia de estádios, que vão do choque inicial à aceitação da realidade. Se estes estádios são reais e vivenciados numa sequência idêntica por todos os pais, ainda é um facto que tem suscitado alguma controvérsia por parte da comunidade científica que se tem dedicado a esta área. Turnbull (cit in idem:63) refere que

“No momento do diagnóstico esta controvérsia torna-se irrelevante, porque os pais necessitam de expressar os seus sentimentos, já que isso constitui um passo saudável para a resolução, devendo ser facultada com honestidade toda a informação acerca da condição do seu filho.”


Os pais da criança com Autismo passam, ainda, pela maturação física e cognitiva num contexto social e psicológico, associado ao momento da adolescência, ate à procura desesperada de uma solução, que permita que o seu filho prepare o futuro.
Muitos são os factores que influenciam a forma como uma família se adapta às exigências acrescidas de ter uma criança com autismo. Há uma dinâmica básica que é estabelecida muito precocemente em algumas famílias e que se centra no medo de que a criança com esta patologia sinta qualquer forma de disciplina, ou de restrição, como rejeição. Segundo Marques (2000:125)

“ (…) quando referimos as crianças com autismo, não falamos de crianças com um défice manifestado em circunstâncias bem definidas e limitadas. Falamos de crianças que podem manifestar um comportamento permanente inadequado, às horas das refeições, na escola ou numa saída com a família. (…) são crianças com sérios problemas de comunicação e de interacção.”

Em suma, falamos de crianças que originam, nas suas famílias, elevados níveis de ansiedade, preocupação e instabilidade. Neste sentido, deveremos compreender todo este processo, a fim de se disponibilizar estratégias e atitudes educativas que promovam um desenvolvimento harmonioso da criança.


Bibliografia


CORREIA, Luís de Miranda, (2003). Inclusão e Necessidades Educativas Especiais – Um guia para educadores e professores. Porto: Porto Editora.

GOMES, Ana Maria Paula Marques. Famílias Heroínas – enfrentar a adversidade de ter um filho diferente. Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti.

MARQUES, Carla Elsa. (2000). Perturbações do Espectro do Autismo – Ensaio de uma Intervenção Construtivista Desenvolvimentista com Mães. Coimbra: Quarteto Editora

SIEGEL, Bryna. (2008). O mundo da criança com autismo – Compreender e tratar perturbações do espectro do autismo. Porto: Porto Editora.


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